sábado, 11 de dezembro de 2010

Era preciso dizer Adeus

Então era melhor partir.Sem velhas despedidas melodramáticas,cartões postais,choros e lágrimas.Eu apenas queria partir,e levar todos os meus pedaços,afinal despedidas costumam arrancar boa parte do meu eu,quando não me deixo por inteiro.
Era preciso ser rápida,pegar todas as roupas que deixei espalhadas pelo quarto,algumas que ficaram naquele armário miserável que dividíamos. Ele tinha apenas algumas camisetas surradas de bandas e um ou dois jeans velhos,minhas roupas ocupavam maior parte.
A minha mala era pequena,eu sabia que seria preciso voltar mais uma vez para aquele apartamento,e nostalgia era o típico sentimento do qual eu costumava fugir como diabo foge da cruz. Mas ou eu voltava,ou deixava metade das roupas na casa dele.É,eu sabia que voltaria.
Ele havia saído logo cedo para trabalhar.Sem café da manhã juntos,apenas o cheiro de café forte que ele costumava fazer para manter-se acordado no trabalho entediante e monótono do escritório.Era só no fim de tudo que eu percebia o quanto aquelas mínimas manias,me irritavam profundamente.
Dei uma última olhadela no apartamento para ver se estava esquecendo algo.É claro,eu sempre esquecia alguma coisa.Meus discos do Led Zeppelin,alguns álbuns do Eric Clapton,eu não deixaria assim,de lambuja para ele.
Apesar de termos o mesmo bom gosto,diga-se de passagem,para música,ele detestava o espaço que meus discos ocupavam,porque ele queria era colecionar qualquer lixo que fosse,só para me irritar.
A última coisa que faltava,era apenas vestir minha jaqueta,colocar os fones do meu ipod e escolher alguma trilha sonora perfeita para um Adeus,se é que um Adeus deve ter alguma trilha sonora,enfim.
Fechei a porta sem olhar para trás,porque eu não estava apenas deixando um apartamento,estava deixando uma vida de amarguras,mágoas e rotinas para trás.Estava deixando o cheiro de café forte,a toalha molhada em cima da cama,a implicância com meus discos,a poeira em cima da mesa,e o jeito como ele me abraçava quando íamos dormir.
Eu já não poderia suportar nem mais um minuto embaixo do mesmo teto que ele.Já havia um tempo em que não trocávamos mais palavras doces,eram apenas insultos,brigas e lágrimas rolando.Era tpm minha,era tpm dele,era tpm de todos nós.
Eu não sabia bem pra que lado iria,afinal agora era uma sem teto,oficialmente.Mas,nada me importava,porque a liberdade me acompanhava,porque meu coração poderia se tornar inteiro novamente.
Era como se eu tivesse aberto a gaiola da qual entrei porque quis.É,eu sei que a culpa de todo o sofrimento é minha,porque eu escolhi e tudo o mais,sei o que todos dizem 'você colhe aquilo que planta',mas esse papo de livros de autoajuda e terapia de bar é o tipo de coisa que me faz querer ficar longe das pessoas.
Aliás acho que me cansei delas,de todas elas.As pessoas tem a péssima mania de nos fazer acreditar em tudo o que há de melhor no mundo,para depois nos mostrar que contos de fadas não existem.E não me importo com o que digam,que aquele papo de que as pessoas só nos decepcionam porque criamos expectativas em relação à elas,eu acho tudo uma bela de uma baboseira.Como não criar expectativas em relação à algo ou alguém?Como não querer apostar todas as suas fichas em um relacionamento quando se está apaixonado?Creio que está para nascer pessoa que consiga ser tão racional quanto a matemática dos corpos exige.
Eu fui embora,sem Adeus,bilhete ou telefonema.Fui embora e levei tudo o que era meu comigo,mas sei que uma parte de mim ficou naquele velho apartamento.