domingo, 28 de fevereiro de 2010

                                                    E como uma chama,eu me apago.

Fechar os olhos



Por tantos dias lutei contra o imenso desejo de pôr fim as minhas dores de forma mais rápida e menos cruel comigo mesma,mas a covardia não me deixou fazer.
Por muitas noites deitei em minha cama fria,desejando que todo esse inferno acabasse,mas ele estava apenas começando,e eu não me dava conta.
Então passei a chamar por alguém que fosse capaz de me tirar essa agonia do peito,e me trazer de volta à vida.Alguém que fosse capaz de arrancar todas as minhas dores,permitindo o ar voltar a percorrer os meus pulmões,mas eu apenas sufoquei,e dormi.
Dormi por toda a eternidade,que me viu ser consumida como palha pelo fogo,derrotada dia após dia pela dor que me perturbou o sono.
Eu me vi fraquejar de novo e abrir mão da luta,pois eu simplesmente não suportaria mais sangrar,por toda a eternidade.
Eu queria apenas que meu coração se libertasse,então quis libertar minha alma da prisão que meu corpo gélido tornou-se.
Apenas fechei os olhos e esperei pela chama final que me consumiria por inteira,mas ela não veio.Ao contrário do que eu pensei,a dor foi tanta que me anestesiou e eu já não era capaz mais de sentí-la,mas também não me sentia mais viva.
Me cobri com as sombras da noite,e enxuguei minhas lágrimas com o manto das dores,e apenas me deixei ir,para onde nem sei dizer.Bastou fechar os olhos e me deixar levar,para um lugar onde as dores não podem perturbar meu sono.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O destino quis assim,unir dois corações que foram tão machucados por outros corações frios.
O destino quis então,fazer dois seres se apaixonarem perdidamente,precisando sentir o toque na pele,o gosto do beijo,os sussurros no ouvido...
Mas o destino apenas esqueceu,de que a distância pode não separar dois corações,mas separa dois corpos,e isso,o destino nunca soube.
A distância as vezes machuca um coração,que sofre calado pela ausência do outro.

Quem vê este rosto esboçar um sorriso,se engana.
Os olhos continuam a mostrar as dores da alma,que agoniza e sufoca,calada.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Desmorona.

E todos aqueles sonhos que você disse construir por mim,desmoronaram.
Desmoronou junto com tua máscara de homem amante,de amor verdadeiro.
Desmoronou junto com o desmoronar do coração partido,depois da verdade dos teus olhos.
Desmorona,mundo,desmorona.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A Janela.

Era uma janela,eu e mais nada.Aquele som de sussurro do vento e aquela música que me fazia sentir a melancolia perpassar a pele,e doer os ossos.
Tudo me fazia acreditar que aquele era o momento,tinha de ser.
Encorajei-me então bebendo um gole de vinho barato,daqueles de dez reais que se compra em qualquer mercadinho,e dei a última tragada no cigarro que já estava com gosto de velho de tanto que guardei-o para aquele momento.
Eu andava de um lado para o outro com aquela taça de vinho na mão,vazia.Eu não tinha a coragem suficiente para ir até o fim com aquela idéia maluca que me vinha a cabeça,a cada momento que eu relembrava aquelas dores que me faziam revirar na cama,e perder o sono.
Eu precisava de algo mais forte para sair de mim,de uma vez por todas.Para deixar a pele corar,o sangue subir,e a coragem se mostrar.
Revirei aqueles malditos armários velhos,com cheiro de mofo,e vazios,procurando qualquer garrafa de bebida,com um pingo que fosse,para matar a sede da covardia que eu guardava no peito.Eu não podia ser covarde mais,não podia.
Então acabei encontrando uma velha garrafa de Whisky,que papai costumava beber quando era mais nova.
Virei a garrafa numa golada só,e até me faltou ar.Mas eu resisti até o fim,matei a garrafa e pronto,a coragem apareceu.
Eu a reconheci com o rosto rubro no espelho.Eu sabia que agora,era uma questão de tempo para que o álcool surtisse o efeito desejado,o efeito de me impulsionar,era o momento certo.
Então pensei,pensei até que decidi,eu tinha que fazer,pois ninguém mais o faria.
Me dirigi até a janela,com os olhos vidrados naquele porta-retratos onde tinha a nossa última foto.
Era a última lembrança que tinha de nós dois,era a última coisa que guardei.Era a última coisa que deveria ter guardado,mas guardei.
Então levantei o vidro daquela janela,e antes de tomar o impulso final,observei o céu e senti a brisa bater sobre meu rosto rubro da bebida.
Caiu.Primeiro um,depois dois,dez metros e pronto,se espatifou no chão.
A queda foi tão rápida que não senti dor alguma,nem antes,nem depois.
Sem dor,sem remorso,apenas o silêncio.
Caiu,e eu apenas ouvi o barulho do vidro se esfarelando no asfalto,e a foto ali.Eu precisava me livrar de toda e qualquer lembrança de você,antes que o que caísse pela janela,não fosse mais a nossa foto.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Meio fio.



Então meu coração pára por um segundo.Só sinto o peito contraindo e expandindo,e a respiração entrecortante,entre os instantes em que me sinto morrer,e os instantes em que tento não me afogar na dor.
E dessa vez a mágoa tem a minha marca,eu que a causei.E não foi à mim,foi a alguém por quem sonhei um dia,enxugar qualquer lágrima que viesse a percorrer aqueles olhos brilhantes,aquele rosto de anjo que veio para me salvar da tentação de cair em mim de novo.
Eu andava em meio ao meio fio,na corda bamba.Dividida em mil sentimentos entre duas únicas pessoas.
Uma hora pendia para um lado,outra hora para o outro,mas vivia pendendo pra algum lado.Mas até o dia que me desequilibrei,e caí.
Eu caí para seus braços,para seus abraços,me iludi,e iludi também.
Eu servi meu coração em bandeija de prata pras pessoas erradas,e na hora de serví-lo novamente,servi apenas a metade que era para evitar o desperdício.
E então me arrependi,pois meio coração não foi suficiente.
Então aquele anjo,eu o vi derramar lágrimas de decepção.Eu sabia que eu o havia machucado,e aquilo machucava profundamente à mim também.Eu queria apenas abraçar aquele anjo,mas ele estava tão longe!
Eu apenas queria dar a outra metade do meu coração,e dizer-lhe que o coração por inteiro o pertencia,pois eu já não caminhava na corda bamba,eu já sabia quem eu queria,pra que lado eu gostaria de cair,e era em seus braços que eu gostaria de estar...
Mas agora já não sei se meu anjo está lá para me esperar,agora já não sei,se eu cair,se ele irá me segurar,pois eu machuquei meu anjo,eu machuquei.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Depósito de pequenas gotas.



Nós seres humanos somos carregados de sentimentos que trasncendem nossas dimensões e vão um pouco além de nossa carne e osso.
Somos um depósito de pequenas gotas,pequenas doses diárias de todo o tipo de sentimento,egoísta ou não.
Vivemos nossa vida toda guardando tudo aquilo que sentimos no coração,e acreditamos que nunca deixamos transparecer,mas isso é uma terrível ilusão.
Tudo aquilo que transformamos,expressa o que internamente sentimos.Produzimos para externar nossas dores,amores,frustrações,alegrias.
Transformamos para nos libertar,para morrer na dor,e talvez nascer de novo,como a fênix.
Somos um pouco de tudo aquilo que o mundo exala,a cada segundo.
Somos o amor,somos o ódio,somos os opostos que se atraem,que se distraem,que se contraem e morrem de dor.
Somos os afins,o final e o recomeço de tudo aquilo que sentimos,e vivemos num ciclo vicioso do sentir,até que este nos consuma por inteiro até que não nos reste nada além do ser.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

cada partícula de átomo presente no Universo



Nem sempre gosto de ser o Sol.Uma hora o calor confortável dos raios, torna-se insuportável e queima a pele.
E nem sempre chuva,também.A chuva que cai sob os ombros é a mesma que escorre sob os pés, e eu não gosto assim,de estar sempre caída a teus pés.
Ser vento também não é lá minha maneira de ser, o vento passa, as vezes é cortante como o frio, é gélido e bagunça o cabelo, mas ele passa.E eu não estou só passando por tua vida, e nem você pela minha.
Gosto de ser cada partícula de átomo presente no Universo.
Uma partícula de mim está em cada canto, com cada coração que bate demasiadamente rápido.
Eu gosto de ser os raios de Sol, quando confortáveis, e as gotas de chuva quando estas, tocam teus lábios tão docemente, que nem se sente.
Eu quero bagunçar teu cabelo, e soprar no teu ouvido, só pra que se lembre que um dia estive ali ao seu lado, como o vento.
Não gosto de ser inverno, nem ao menos verão.
Prefiro temperaturas agradáveis como o Outono, onde as folhas das árvores balançam levemente com a brisa da tarde, e tocam o chão, num ciclo de vida e renascimento.
Gosto de ser cada parte de mim, porque sou.Inteiramente.Sou partículas que me tornam inteira, completa.
Porque não dependo das partículas de outrém para ser quem sou.
Gosto dessa liberdade, de ser o que quiser, e quando quiser.Porque sei, sou inteira mesmo quando sou apenas uma parte de mim.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A história da chuva.

Eu gosto do som da chuva.E gosto também daquele cheiro de terra molhada que fica no ar.
É cheiro de infância,cheiro de saudade,cheiro de inocência.
Daqueles dias em que eu corria pela chuva,com a minha mãe gritando logo atrás de mim 'menina!sai da chuva que você vai pegar gripe',e que eu nem dava bola.Eu gostava de sair correndo e pular nas poças d'água porque simplesmente o barulho delas era tão gostoso de ouvir!
Me lembrava das tardes em que eu ficava na janela,só ouvindo o barulho da chuva caindo sobre o telhado,até adormecer.
E das noites em que aquele vento fresco batia em meu rosto,e tirava meu cabelo do lugar.
Eu gosto da sensação de estar viva que a chuva me traz quando cai sob meus ombros,molhando meu corpo todo,dos pés a cabeça.Eu gosto da chuva.
Eu gosto porque eu não me sinto tão só.Porque a chuva traz lembranças que eu sei,nunca irei me esquecer.
Lembranças da infância,lembranças de beijos e abraços molhados,de despedidas não tão dolorosas.De últimos momentos,de confissões trocadas.
A chuva me lembra de dias em que corri para não ficar toda ensopada,lembra da última vez que vi um olhar sincero.A chuva me lembra a vida que um dia,eu vivi.

O peso.

O caos me domina,e a cada segundo que passa,sinto que estou mais e mais perdida.
O medo de decepcionar por muitas vezes me calou quando julguei ser a hora de falar.Guardei cada sentimento em uma caixa,e pode-se de dizer que tudo isso era uma caixa de Pandora.
E então algo fez com que eu me libertasse,e resolvi abrir a caixa de Pandora.
Sentimentos como raiva,ódio,desgosto,nojo,repúdio,decepção,mágoa,foram se libertando,e aliviando aquela carga pesada que guardava no peito,sempre em silêncio.
Aliviei,ou ao menos achei que tinha aliviado todo aquele peso que vinha juntando durante tantos anos.Mas o peso maior ficou comigo,o da consciência.
Por mais que eu soubesse que aquilo era a decisão certa a ser tomada,alguma coisa ainda me prendia naquilo que eu sabia que não era a melhor.
Dessa vez não me calei,mas agora suporto o peso das minhas palavras sob minha cabeça,o peso da culpa por não ter agido como eu gostaria,como eu achava que seria a melhor forma.Carrego em mim a dor maior por ter falado algo que sei que não machucou à quem eu as dirigi,mas a mim,por não querer mas mesmo assim agir.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Insensível.



Não sei se posso dizer sinceramente aquilo que sinto,porque ultimamente venho me tornando insensível à tudo.
A vida já é tão difícil quando sentimos tudo o que nos rodeia de forma intensa e verdadeira,que fica fácil demais nos machucar com o que quer que seja,e da forma mais dolorida.
Então é preferível deixar de sentir,assim quem sabe a vida se torne mais leve,mais fácil de ser vivida,ou ao menos fica mais fácil levá-la sem precisar parar um instante para curar uma ferida.
Na verdade,ninguém pára sua vida para se importar com alguém que sofre ao seu redor.Ninguém pára oferecendo ajuda a uma pessoa que está chorando no ponto de ônibus,ninguém estende a mão para levantar alguém que tropeçou e caiu na calçada bem a sua frente.
Nós seguimos nossa vida toda nos importando apenas com nossas feridas,nossas quedas,nossas lágrimas.Nos tornamos insensíveis à cada segundo que passa,porque tudo o que nos importa na realidade,é a nossa dor,e a de mais ninguém.
Não importam quantos corpos estão sendo amontoados numa cova qualquer depois de um atentado terrorista,ou se temos crianças passando fome nas ruas e nas favelas.Não importam quantas casas pegam fogo durante a madrugada,ou quantas desmoronam nos morros após uma forte chuva.
Nos importamos apenas em chegar em nossas casas,depois de um cansativo dia de trabalho,tirar nossos sapatos para descançar o pé machucado,e ligar a tv.
Ligamos a tv e mudamos de canal para encontrar uma programação agradável o bastante para que possamos dormir e descançar para nossa rotina de insensibilidade.
Porque desmoronamento,morte,é coisa do cotidiano.São palavras que já não nos causam nenhum alarde nem em reportagens mais excêntricas.
Na verdade,nada nos causa náusea ou desconforto porque nos tornamos insensíveis até mesmo às nossas dores.
Nós nos tornamos uma máquina.Insensível e programada para curar apenas nossas dores,e a de mais ninguém.Programadas apenas para ter,e não para sentir.